Talvez já seja familiar para muitos dos leitores (psicólogos, Analistas do Comportamento, ou outros interessados pelo tema) que o processo de psicoterapia tem como um dos objetivos levar o cliente a conhecer-se mais. Isso equivale a dizer que o indivíduo que faz psicoterapia conhece os antecedentes que tornam seus comportamentos mais prováveis, bem como as consequências que seus comportamentos produzem para si mesmo e os que estão à sua volta.
Hoje o que discutiremos é uma das formas como o autoconhecimento pode ser desenvolvido pelo psicoterapeuta. O psicoterapeuta parte de relatos “livres” ou “espontâneos” do cliente para, então, investigar as informações que o ajudem a compor a tríplice contingência, ou seja, organizar e sistematizar o conteúdo relatado em sessão de tal forma que se faça uma análise do comportamento em questão.
Em geral, o que acontece é que o psicoterapeuta passa a conhecer o padrão de comportamento do seu cliente e as interações entre as variáveis ambientais e os comportamentos e sentimentos antes do próprio cliente estar consciente de tais interações. É assim que se constrói a análise funcional a respeito do padrão de comportamentos do cliente. Feito isso, o psicoterapeuta conduzirá intervenções que levem o cliente a também discriminar os fatores que influenciam seus comportamentos (e sentimentos).
É de importância indiscutível que o cliente tenha consciência, ou seja, conheça os aspectos que influenciam seu jeito de pensar, agir, sentir e manifestar os sentimentos. Não basta que o psicoterapeuta o saiba. Sendo assim, destaco duas habilidades importantes de um bom analista do comportamento que atue na clínica: habilidade para construir as análises funcionais, e habilidade para levar o seu cliente a conhecer e participar da elaboração das análises.
Quanto a esta segunda habilidade, vamos então recorrer a uma categoria de comportamento verbal. Quando o psicoterapeuta apresenta para o seu cliente descrições do padrão de comportamento apresentado, como, por exemplo: “você tem relatado com frequência que, antes de reuniões importantes com a diretoria da empresa, você tem insônia, agitação, pensamentos pessimistas, sensação de que vai ser demitido”, esta descrição se enquadra na categoria tato. Um tato é um operante verbal evocado pelo antecedente, em geral um evento ou objeto específico, e mantido por consequências sociais generalizadas (Santos, Santos e Marchezini-Cunha, 2011).
Podemos dizer que o tato não é influenciado pelas consequências que produzirá sobre o ouvinte, de tal forma que seu conteúdo não é distorcido em função da reação do ouvinte. Isto torna o tato um conteúdo descritivo. Diante disso, você já deve estar compreendendo a importância dos tatos feitos pelo psicoterapeuta. Esta é uma ferramenta para o desenvolvimento de autoconhecimento: o psicoterapeuta faz descrições do padrão de comportamento do cliente para que este passe a ter consciência do que o afeta, o influencia, e o que ele gera de consequências ao se comportar.
Passemos, então, a uma subcategoria do tato: extensão metafórica do tato, que são as metáforas. Conceitualmente, a extensão metafórica trata-se do operante verbal que é emitido sob controle de uma propriedade específica do estímulo antecedente, e então se estabelece uma relação entre tal propriedade e algum aspecto da vida do cliente para que se conheça mais facilmente a análise construída (Santos, Santos e Marchezini-Cunha, 2011).
Partindo do exemplo de tato apresentado anteriormente, o psicoterapeuta poderia substituir sua fala por “Antes de você entrar para uma reunião com a diretoria, é como se você estivesse na primeira subida de uma montanha russa, esperando que o pior vai acontecer com você.” A comparação entre as sensações torna mais fácil a compreensão da fala do psicoterapeuta.
Além de facilitar a compreensão da análise, o uso de metáforas pode tornar a interação mais descontraída (menos formal), e também produzir no cliente uma sensação de acolhimento e compreensão pelo psicoterapeuta.
Outro grande avanço é quando o cliente, apropriando-se da metáfora cunhada pelo psicoterapeuta, passa a utilizá-la para fazer relatos de outros eventos. “Outro dia, eu me senti de novo na subida da montanha russa. Mas, desta vez, eu estava na reunião de pais do meu filho mais velho.” Isto mostra ao psicoterapeuta diversos aspectos desejados dentro do processo psicoterapêutico: o cliente compreendeu a metáfora utilizada na primeira ocasião; a análise foi apropriada, de tal forma que o cliente validou a fala do psicoterapeuta; e o cliente conseguiu realizar a generalização, ou seja, aplicação do conceito subjacente à análise em outro episódio relacionado à sua queixa de ansiedade.
O uso de metáforas pode se tornar um procedimento para apresentação das análises funcionais, bem como para desenvolver o autoconhecimento e os relatos dos clientes. É uma forma de intervenção que vem sendo praticada por analistas do comportamento no contexto clínico, pode ser continuamente estudada e aprimorada.
Referência
Santos, G. M., Santos, M. R. M., & Marchezini-Cunha, V. (2011). Operantes verbais. Em N. B. Borges e F. A. Cassas (Org). Clínica analítico-comportamental: aspectos teóricos e práticos (pp. 64-76). Porto Alegre: ArtMed.