Você conhece a Imagine: Tecnologia Comportamental? Conheça na Entrevista Exclusiva com Felipe Leite e Lidiane Queiroz

Recentemente dois analistas do comportamento muito queridos pela equipe do Comporte-se, o Felipe Leite e a Lidiane Queiroz, criaram a Imagine: Tecnologia Comportamental (Fanpage no Facebook/ E-mail: itecnologiacomportamental@gmail.com), sediada em Fortaleza (Ceará) e com uma excelente equipe de colaboradores em Belém (Pará). A Imagine nasceu com objetivos bem definidos: 1) Ampliar a oferta de serviços baseados na Análise do Comportamento; 2) Auxiliar jovens Analistas do Comportamento se inserirem no mercado ao mesmo tempo em que seus conhecimentos sobre a abordagem são aprimorados e, finalmente, 3) Incentivar desenvolvimento e a aplicação de ideias através do trabalho conjunto da equipe.

Imagine: Tecnologia Comportamental

Iniciativas como a do Felipe e da Lidiane devem ser divulgadas porque certamente poderão inspirar outros projetos em nosso país. Pensando nisso, convidamos o casal a nos conceder uma entrevista sobre a Imagine, a qual você confere logo abaixo, na íntegra.

1)      Para começar, gostaria que falassem um pouco sobre a trajetória de vocês na Psicologia na Análise do Comportamento. Como chegaram até aqui?

Felipe: Me graduei em Psicologia em 2006 pela Universidade de Fortaleza e durante o período de graduação tive experiências diversas de inserção profissional, como trabalho com redução de danos, sendo acompanhante terapêutico de um adolescente autista e trabalhando em uma empresa júnior de Psicologia. Desde 2004 trabalhei com organização de eventos. Em 2007 iniciei o mestrado em Teoria e Pesquisa do Comportamento na UFPA e em seguida emendei com o doutorado. Como pesquisador sempre atuei no campo de Análise Comportamental da Cultura, com ênfase em pesquisa básica. Durante o período como pós-graduando entrei em contato com jovens (e não tão jovens) pesquisadores analistas do comportamento do Brasil inteiro. Particularmente os Encontros da ABPMC me aproximaram de muitos colegas que hoje se tornaram amigos próximos. Minha carreira docente iniciou em 2009 em uma faculdade particular de Belém, deu uma pausa e voltou em 2013 como professor substituto da UFPA. Nesse período atuei principalmente como professor de Psicologia Organizacional, mas também com bom foco em Métodos de Pesquisa. Agora em Janeiro assumi um cargo de professor na Universidade de Fortaleza para disciplinas de Análise do Comportamento e junto com a professora Denise Villas Boas iniciaremos um grupo de pesquisa em Análise do Comportamento, no qual focarei nas linhas de pesquisa de Análise Comportamental da Cultura e Educação e desenvolvimento de jogos.

Lidi: Sou graduada pela PUC Belo Horizonte. Em 2007 trabalhei na equipe técnica da FUNCAP – PA com suporte à menores infratores. De 2007 à 2009 fui professora de várias disciplinas em Análise do Comportamento em Santarém – PA, no IESPES  e FIT incluindo a cadeira de Processos Psicológicos Básicos (o que neste curso de Psicologia era uma disciplina AEC), em 2009 me tornei coordenadora do curso de Psicologia, tendo deixado o cargos de professora e coordenadora para iniciar o mestrado na UFPA em Teoria e Pesquisa do Comportamento. Paralelo ao mestrado, trabalhei nas Faculdades Ipiranga no setor de atendimento e suporte ao aluno (NAP – Núcleo de Apoio Psicológico). Atualmente estou concluindo o doutorado na UFPA e desenvolvendo um trabalho de Análise do Comportamento Aplicada ao Autismo em ambiente natural.

2)      Como surgiu a “Imagine: Tecnologia Comportamental”?

Felipe: Como todas as coisas que mais me interessam, surgiu de modo bem natural. A Lidi estava atuando com Análise do Comportamento Aplicada ao Autismo em Belém e frequentemente conversávamos sobre como seria possível ampliar ofertas de serviços em AC e tínhamos muitas ideias. O trabalho dela passou a contar com alunos de Psicologia ou recém-formados atuando como acompanhantes terapêuticos ou acompanhantes pedagógicos. Com isso percebemos que esse campo de atuação era uma excelente oportunidade para jovens analistas do comportamento se inserirem no mercado de trabalho. Ao chegarmos em Fortaleza encontramos alunos e recém-formados altamente dispostos a aprenderem coisas novas buscando experiências profissionais. Além do mais, são pessoas com muitas ideias mas  que achavam que não era possível executá-las. Adicionalmente, ouvimos bastante que o mercado para jovens psicólogos tem sido bastante hostil aqui em Fortaleza. Desse modo, pensamos que poderíamos usar nossa experiência para ajudar jovens analistas do comportamento a ingressarem no mercado e pensar caminhos de atuação e ofertas de serviço diferentes do que grande parte dos psicólogos de Fortaleza vem oferecendo.

Nos perguntamos sempre: “O que podemos fazer no mundo enquanto analistas do comportamento?” Acredito que a resposta dessa pergunta é ampla e sigo o mesmo raciocínio daquele exposto em um recente texto de Anthony Biglan, no qual ele vê que a ciência do comportamento provavelmente é nossa ciência mais importante. Acredito que podemos fazer muito para trazer soluções para problemas humanos, e por enquanto nossa ciência ainda só tem apresentado a ponta do iceberg.

Outro ponto envolve o que entendemos enquanto empresa. Uma empresa basicamente é um grupo de pessoas que trabalham juntas exercendo alguma atividade econômica. Não queremos que pessoas trabalhem PARA a gente, mas sim COM a gente, somando, construindo. Um projeto desenvolvido no seio da Imagine não é apenas nosso, mas de todos que trabalham nele. Acreditamos que desse modo aumenta-se a probabilidade de pessoas buscarem desenvolver ideias e não simplesmente esperar que eu ou a Lidi as apresente e nossos colegas as executem de modo passivo. Queremos pessoas pensando e construindo conosco.

Lidi: Complementando a fala do Felipe, acredito que a Imagine tem a proposta desafiadora de ser diferente, de oferecer um serviço diferente do que tem sido massivamente praticado para o grande público. Sempre ouço aqui e ali que tratamos as pessoas de maneira não humana, que tornamos as pessoas robôs, enquanto sabemos que fazemos exatamente o oposto disso! Analistas do Comportamento podem ser extremamente calorosos, acolhedores e reforçadores, podemos de forma dinâmica e ativamente positiva ajudar as pessoas a se relacionar melhor com o ambiente que as perpassa. Queremos com a Imagine quebrar barreiras do serviço tradicional que é oferecido atualmente, queremos propor modelos tecnológicos parcimoniosos mas que podem ter grande impacto na mudança de rotina das pessoas.

3)      Que projetos a “Imagine: Tecnologia Comportamental” vem desenvolvendo?

Felipe: Atualmente oferecemos um serviço de Análise do Comportamento  Aplicada ao Autismo com intervenções em ambiente natural. Mas deixarei para a Lidi descrever mais esse serviço. Adicionalmente estou coordenando a equipe Imagine Games, com foco em desenvolvimento de jogos com base em tecnologia comportamental para fins diversos. Nosso projeto piloto é um jogo de ensino de AEC.

Lidi: A proposta de atendimento em ambiente natural não significa que o trabalho é menos estruturado, apenas que ele ocorre nos ambientes que a criança interage. Ex: desenvolvo intervenção que deverá ser aplicada na escola, em casa, na aula de natação, juntamente com a equipe da criança (fono e TO). Na escola, se for necessário, coloco um acompanhante pedagógico para auxiliar na adaptação de materiais para aprendizagem e facilitar a socialização da criança com seus pares. Em casa, além do trabalho realizado pelo AT, incentivo os pais a participarem ativamente da intervenção, através de programas que podem e devem ser aplicados de maneira semi – estruturada ao longo do dia. Também proponho atividades para o período de férias escolares uma vez que sabemos que a rotina para crianças diagnosticadas com TEA é fundamental e o primeiro passo para uma melhora no seu desempenho.

4)      Quem faz parte da equipe?

Lidi: Vamos lá J, em Belém conto com o suporte da Jade Martins tanto na aplicação direta de programas como nas visitas às escolas e com a Raquel Platilha e o Yan Vanderlon como acompanhantes terapêuticos. Como acompanhantes pedagógicos contamos com a colaboração de Aline Ferreira e Raíssa Sarquis. Em Fortaleza, estamos na fase de treinamento de equipe. Atualmente estamos estudando o livro Design Strategies Teaching (Greer, 2009). Fazem parte do grupo além de mim e do Felipe, Laís Correia, Saylo Moura, Odilon Duarte, Tuanne Alves, Fernando Tavares e Umbelino Neto.

Felipe: Na equipe Imagine Games conto com a colaboração do Saylo e Odilon, já citados acima, além de Luis Sousa, João Pedro Magalhães e Gerôncio Oliveira. O grande amigo Leornardo Marques se ofereceu para nos dar um suporte como consultor externo.

5)      Quais são os planos para o futuro?

Felipe: Ainda estamos nas fundações da empresa, então nossos planos correntes e de futuro próximo envolvem tocar os projetos acima citados para frente. Temos como planos também trabalhar no desenvolvimento de apps de ensino (com e sem uso de jogos) e fornecer serviços de desenvolvimento de repertório acadêmico com base em estratégias de ensino da Análise do Comportamento Aplicada.

Lidi: No campo voltado para tecnologia de ensino, estamos iniciando um projeto para implementar um sistema personalizado de instrução em ensino infantil em uma escola de Fortaleza.

6)      Na opinião de vocês, qual a importância de uma empresa com a proposta da Imagine?

Lidi: Eu penso que principalmente abrir possibilidades de atuação para jovens analistas do comportamento.

Felipe: Acho que tem dois pontos fundamentais que embasam nossa proposta. O primeiro diz respeito à tentar explorar possibilidades diversas de atuação do analista do comportamento e com isso esperamos que outras pessoas tomem a iniciativa de oferecer serviços novos e tentarem entrar em mercados que usualmente pouco exploramos. O segundo ponto diz respeito a um modelo de negócio. Acreditamos que empresas com rigidez hierárquica e na qual há patrões e contratados trazem consigo semestes de desmotivação. Ao invés de pessoas trabalharem para a gente, queremos que trabalhem conosco, com ênfase no seu desenvolvimento profissional. As pessoas que trabalham com a gente não estão presas a nós, mas nosso tempo de trabalho juntos deverá servir como fonte de desenvolvimento tanto para eles quanto para nós. Se este modelo será economicamente viável não sabemos. No entanto, se nosso objetivo é tentar novas práticas, nada mais justo do que sermos experimentais inicialmente com nós mesmos.

7)      Que dicas ou conselhos podem deixar para outros profissionais interessados em desenvolver projetos semelhantes?

Lidi e Felipe: Primeiro, estudem. E muito. Temos excelentes programas de pós-graduação em Análise do Comportamento no Brasil, em níveis de especialização, mestrado e doutorado. Essa formação é fundamental para o domínio de conceitos e procedimentos em AC. E continuem estudando ao longo de toda a vida. Sempre estão sendo publicados achados de pesquisa com novas possibilidades de atuação e desenvolvimento de tecnologia analítico-comportamental. Por fim, achamos que as pessoas devem perder o medo de correr riscos e tentar fazer coisas de modos diferentes. Experimentem. Sempre ouvimos que nossa ciência pode fazer muito, então vamos fazer!

Agradecemos ao Comporte-se pela oportunidade de bater esse papo e esperamos poder contribuir para nossa comunidade.

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Escrito por Portal Comporte-se

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