Uma via em especial vem despertando atenção: o nariz. A cavidade abriga botões terminais de nervos conectados a estruturas como o tronco cerebral e o bulbo olfativo (imagem ao lado). Os medicamentos injetados por sprays nasais representam, assim, uma nova esperança para tratar doenças neurológicas – com a vantagem de serem pouco invasivos. Pesquisas em andamento avaliam a aplicação, por essa via, de moléculas terapêuticas ou mesmo de células-tronco. Abaixo, algumas delas.
Oxitocina
O que é: hormônio e neuromodulador associado à criação de vínculos afetivos e à confiança.
Em spray: as primeiras pesquisas sugerem que a terapia com oxitocina pode aprimorar a sociabilidade de pessoas com espectro autista, fobia social e esquizofrenia. Em uma delas, por exemplo, 13 meninos diagnosticados com o espectro receberam doses intranasais do hormônio – de acordo com os resultados publicados no Proceedings of the National Academy of Sciences, eles se mostraram mais envolvidos em uma brincadeira de jogar e receber a bola de outra pessoa.
Situação: ainda não há resultados consistentes sobre sua eficácia. Cientistas consideram que a resposta ao tratamento é individual e varia de acordo com fatores genéticos.
Insulina
O que é: hormônio secretado pelo pâncreas, permite às células, entre elas os neurônios, absorverem a glicose, fonte de energia celular, da corrente sanguínea.
Em spray: pesquisadores estudam seu uso para tratar sintomas de perda cognitiva em pessoas com Alzheimer. Um estudo com 33 pacientes, publicado no Journal of Alzheimer Disease (JAD), associa a terapia com insulina intranasal a melhoras na memória verbal. O uso da substância está sendo estudado não apenas para doenças neurológicas, mas também para transtornos psiquiátricos, como esquizofrenia e estresse pós-traumático (TEPT).
Situação: estudos multicêntricos (com colaboração de várias universidades) e em larga escala estão em andamento. A expectativa, dependendo dos resultados, é que o tratamento com insulina intranasal para Alzheimer esteja disponível em 2017.
Cetamina
O que é: é uma droga alucinógena, também usada como anestésico desde os anos 60. É estudada como alternativa aos antidepressivos tradicionais, pois é a única que age sobre as vias neuroquímicas do glutamato, neurotransmissor com funções importantes para o aprendizado, a memória e o humor. Administrada por injeção, ela alivia sintomas depressivos, em média, em 40 minutos, conforme um estudo da Universidade Yale publicado na Science em outubro de 2012 – os antidepressivos comercializados atualmente levam duas semanas para fazer efeito.
Em spray: cientistas acreditam que o uso por spray possa ter resultado equivalente à droga injetada. É considerada uma droga com potencial para tratar emergências psiquiátricas, como pacientes que tentam suicídio.
Situação: não há comprovação sobre sua utilidade para tratamento de longo prazo em pessoas que não respondem aos antidepressivos atuais nem evidências que indiquem sua eficácia em prevenir novas tentativas de suicídio. A segurança e eficácia do uso intranasal de uma substância com as mesmas propriedades da cetamina criada em laboratório estão sendo testadas pela multinacional Johnson & Johnson, que espera colocar a droga no mercado até 2017.
Direto para o cérebro
Substâncias que circulam no sangue tem dificuldade de alcançar o cérebro – o órgão é protegido por uma fina membrana, a barreira hematoencefálica (BHE). Ela desempenha o importante papel de limitar a entrada de moléculas prejudiciais ao sistema nervoso central. Por outro lado, porém, acaba impedindo o acesso de remédios que poderiam ajudar a tratar doenças neurológicas como Parkinson, Alzheimer ou derrame – medicamentos que caem na corrente sanguínea, como comprimidos e injeções, têm ação inócua nesse caso. Por isso, cientistas estudam caminhos alternativos.
Fonte: Mente e Cérebro