Um dos poucos cenários no território mundial em que a área da Análise do Comportamento ainda se desenvolve com sistematicidade e identidade própria é o Brasil (Todorov & Hanna, 2010). Ainda assim, nosso terreno não é totalmente fértil. A comunidade de analistas do comportamento até o momento agricultam suas pesquisas de maneira pouco uniforme no território nacional e nos diversos programas de pós-graduação stricto sensu da área de Psicologia. De certa forma, conforme apontam Moita e Andrade (2009), falar da pós-graduação brasileira é também dissertar sobre praticamente todo o conhecimento produzido no país, uma vez que as agências de fomento e amparo à pesquisa recaem, sobretudo, exatamente sobre os programas de estudos pós-graduados. Estes são os ambientes que germinam, em última análise, este conhecimento – isto porque não há uma cultura forte de direcionar a produção de conhecimento a instituições de pesquisa no Brasil, especialmente no caso da Psicologia, como criticam alguns autores da área (Botomé & Kubo, 2002; Rebelatto, 1999). Ainda assim, somos o 13º país no mundo que mais publica artigos científicos (Regalado, 2010) e o 2º especificamente no campo analítico-comportamental (Todorov & Hanna, 2010).
Tais questões suscitam ao menos dois assuntos: qual o lugar da produção de conhecimento em Análise do Comportamento nos estudos pós-graduados dentro da Psicologia (considerando sua multiplicidade teórica, metodológica, técnica, ética etc.), e como se distribuem as áreas de pesquisa da Análise do Comportamento nos diversos programas de pós-graduação da mesma Psicologia.
Uma maneira resumida (e certamente incompleta) de apresentar um painel sobre tais assuntos é através de um exame das linhas de pesquisa do campo analítico-comportamental nos atuais 73 programas de formação pós-graduada stricto-sensu da Psicologia. No meio desta investigação pode ser útil lançar mão de uma forma de dividir a natureza dos programas da área, ainda que tais divisões sejam arbitrárias e necessitem de ressalvas para que a análise não fique incompleta. Assim, os programas da Psicologia podem ser decompostos (a) nos de caráter generalista, que abrigam diferentes perspectivas teórico-metodológicas e produção de pesquisas tanto básicas quanto mais aplicadas (e ordinariamente se denominam “Programa de Pós-Graduação em Psicologia”); (b) nos que se caracterizam pela área de aplicação (e.g., “Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica”), onde são produzidas pesquisas de cunho mais aplicado, ainda que nem todos os grupos de pesquisa trabalhem com a mesma identidade teórica; e (c) nos que se diferenciam por possuírem uma identidade quanto ao referencial teórico-metodológico, desenvolvendo pesquisas tanto básicas quanto mais aplicadas (e.g., “Programa de Pós-Graduação em Análise do Comportamento). A Figura 1 mostra como se distribuem os atuais 73 programas de pós-graduação da área de Psicologia, destacando entre parênteses o número de programas que contém áreas de pesquisa em Análise do Comportamento.
Uma constatação interessante é que a Análise do Comportamento divide espaço com outros referenciais da Psicologia em pelo menos 13 programas de pós-graduação (contando os de natureza generalista e os de mesma área de aplicação), sendo que temos apenas cinco programas com os quais a Análise do Comportamento ou não compartilha espaço com outros referenciais teóricos/metodológicos diversos a ela ou compartilha com referenciais pouco divergentes. Uma análise da produção integrada da AC com outros referenciais teóricos nesses 13 programas pode ser bastante conveniente para se obter dimensão do quão isolada (ou não) está a produção da nossa comunidade em relação ao resto da Psicologia. Um começo disso pode ser observado na Tabela 1, a seguir, que discrimina todos os 18 programas de pós-graduação com produção em Análise do Comportamento, divididos por região do país. A tabela ainda lista à direita as áreas de pesquisa em cada um desses programas. Este pode ser um painel de interesse também para se observar as possibilidades de interlocução entre diferentes Universidades brasileiras que exercem expedientes de pesquisa afins e também para graduandos ou graduados com interesse na pós-graduação em AC.
Tabela 1. Programas de pós-graduação strictu sensu com áreas de pesquisa com foco analítico-comportamental.
|
Algumas considerações acerca deste mapeamento, entretanto, são necessárias. As fontes para as informações utilizadas nessa coluna foram os relatórios dos programas endereçados à CAPES (disponível em http://www.capes.gov.br/cursos-recomendados), os endereços eletrônicos e editais lançados pelos programas de pós-graduação e o currículo Lattes dos docentes credenciados em tais programas. Mesmo assim, ainda é possível que haja informações sobre a produção de conhecimento (e orientações a pós-graduandos) em áreas que não estão explícitas nas fontes pesquisadas.
Conforme fora mencionado, a apresentação destes dados podem também servir para ilustrar a produção de conhecimento de nossa comunidade científica no espaço brasileiro e ajudar a detectar carências e tendências. Demonstra também de que forma a Análise do Comportamento está viva e com que fartura nas diversas lavouras do país. Espera-se, portanto, que uma detecção dessa distribuição da AC no território nacional possa favorecer o desenvolvimento do campo analítico-comportamental a partir de políticas de difusão (como a contratação de professores e construção de laboratórios em regiões desfavorecidas, organização de eventos etc.), além de também fornecer subsídios para que a safra de pesquisas e analistas do comportamento continue em crescimento, em consonância com outras comunidades científicas afins e demandas da sociedade civil de todo o território brasileiro.
Referências:
Botomé, S. P.; Kubo, O. M. (2002). Responsabilidade social dos programas de pós-graduação e formação de novos cientistas e professores de nível superior. Interação em Psicologia, 6(1), 81-110.
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. (2012). Estatísticas da pós-graduação. Brasília, DF: Autor. Acessado de http://www.capes.gov.br.
Moita, F. M. G. S. C.; Andrade, F. C. B. (2009) Ensino-pesquisa-extensão: um exercício de indissociabilidade na pós-graduação. Revista Brasileira de Educação, v. 14, n. 41, 269-280.
Rebelatto, J. R. (1994). Área de conhecimento e campo de atuação profissional: Uma distinção fundamental para gerenciar a qualidade do trabalho universitário. Revista IGLU, 7, 97-113.
Regalado, A. (2010). Brazilian science: riding a gusher. Science, 330(6009): 1306-1312.
Todorov, J. C.; Hanna, E. S. (2010). Análise do Comportamento no Brasil. Psicologia: Teoria e Pesquisa, vol. 26, nº especial, PP. 143-153.