Pesquisadores encontraram evidências de bases neurobioquímicas da capacidade de se recuperar de adversidades. Logo no início da vida, os genes de um indivíduo e sua interação com o ambiente influem na formação de circuitos neurais que fundamentam a força psicológica e os comportamentos das pessoas resilientes.
Já se sabe que enfrentar medos, experimentar emoções positivas, procurar formas de adaptação que reformulem eventos estressantes e tragam benefícios dos relacionamentos interpessoais é fundamental para reforçar a resiliência. Essa habilidade depende de caminhos neurais relacionados ao medo, à recompensa e à regulação social e emocional. Esses circuitos se sobrepõem em determinadas estruturas cerebrais. A amígdala, por exemplo, não só regula o medo, mas também tem papel importante na recompensa, através do processamento de emoções positivas. O núcleo accumbens, o centro de recompensa, também influencia comportamentos como sociabilidade e ligações amorosas. O córtex pré-frontal medial desempenha papel nos três circuitos e ajuda a regular interações e emoções sociais, repassando informações para outras regiões responsáveis por decisões mais complexas. Como resultado da sobreposição e conexões entre esses circuitos, a maneira como a pessoa enfrenta o medo está relacionada à sua capacidade de se manter otimista mesmo diante de situações de estresse e de procurar viver experiências sociais gratificantes em tempos difíceis.
Os circuitos neurais relacionados ao medo, à recompensa a ao comportamento social são alimentados por diversos neurotransmissores e hormônios. O neuropeptídeo Y, por exemplo, é uma proteína encontrada na amígdala, outra região relacionada ao medo e à ansiedade. A presença do neuropeptídeo Y em pessoas que passam por situações extremamente estressantes, como um treinamento militar severo, está relacionada a melhor desempenho. No entanto, altos níveis de cortisol, hormônio envolvido com o estresse, estão associados com a depressão. A norepinefrina, outra substância relacionada ao estresse, ajuda-nos a reagir adequadamente diante do perigo, preparando-nos para lutar ou fugir. Por outro lado, o aumento excessivo desse hormônio pode deflagrar ansiedade crônica. A dopamina e a serotonina ajudam a manter o sentimento de otimismo em condições difíceis.
Os cientistas acreditam que a resiliência também esteja relacionada à ativação do córtex pré-frontal esquerdo. Quando ativada, essa região na superfície do cérebro, logo atrás da testa, envia sinais inibitórios para a amígdala, o que diminui a ansiedade e as emoções baseadas no medo, deixando a região frontal do cérebro livre para planejar e definir metas. Dessa forma, a pessoa é mais capaz de perseverar, de manter a autoimagem positiva e a esperança em situações de estresse e de elaborar um plano de ação sem se sentir oprimida pelo medo ou por outras emoções. Entender as bases biológicas da resiliência pode ajudar pesquisadores e clínicos a criar intervenções psicológicas e farmacológicas para melhorar a forma como as pessoas lidam com as adversidades.
O texto acima é um trecho da matéria “Que venham os desafios”. Para ler essa e outras reportagens na íntegra, adquira Mente e Cérebro 248 – Superação