Habilidades sociais enquanto fator de prevenção ao comportamento antissocial e criminoso.
Agressão física e verbal, comportamento opositor e violação de regras sociais são alguns dos problemas de comportamento mais frequentemente apresentados na infância, geralmente categorizados como problemas de comportamento externalizantes. Atualmente, há indícios suficientes para se afirmar que esse padrão de comportamentos agressivos e antissociais tende a se manifestar precocemente na infância, por meio de sinais muitas vezes ignorados ou subestimados por pais e educadores.
As crianças que apresentam problemas externalizantes estão, desde cedo, em maior risco de desenvolver outros problemas correlatos, como dificuldades em habilidades sociais, baixo desempenho em atividades escolares e rejeição pelo grupo de pares (Barreto, Freitas & Del Prette, 2011). Esse conjunto de fatores correlacionados contribui fortemente para uma trajetória negativa de desenvolvimento, que pode levar à delinquência e ao comportamento criminoso na adolescência (Patterson, DeBaryshe & Ramsey, 1989).
Existem diversas variáveis associadas ao fenômeno do comportamento violento e antissocial, que vão desde variáveis socioeconômicas, culturais, situacionais a variáveis pessoais, essas últimas relacionadas diretamente ao repertório do indivíduo e à sua história de desenvolvimento. Sendo multifatorial em sua essência, o fenômeno da violência exige atuações e providências em diversos setores, a fim de se atenuar, remediar ou mesmo prevenir a sua ocorrência.
Considerando-se o peso relativo de um bom repertório de habilidades sociais na infância e a probabilidade diminuída de se apresentar problemas de comportamento externalizantes, o Treinamento de Habilidades Sociais (THS) tem se configurado como uma das principais estratégias de prevenção e tratamento do comportamento antissocial infantil. Em recente publicação que reúne diferentes intervenções e análises de políticas para prevenção do comportamento criminoso, o THS figura como uma das intervenções preventivas recomendadas, em uma perspectiva desenvolvimental de gênese, evolução e manutenção desse comportamento (Lösel & Bender, 2012).
Não é difícil se imaginar que habilidades sociais como empatia, autocontrole emocional, resolução de problemas interpessoais, comunicação adequada e assertividade, ao invés das respostas agressivas, podem se constituir como um repertório alternativo desejável aos problemas de comportamento infantis. A utilização dessas habilidades está potencialmente mais associada a consequências positivas de longo prazo, como relações sociais de melhor qualidade, melhor desempenho na escola, dentre outras.
Deve-ser enfatizar que os déficits em habilidades sociais não devem ser considerados, isoladamente, como único fator responsável pela ocorrência dos problemas externalizantes em crianças, mas sim como um dos fatores de peso em uma equação multideterminada. Nesse sentido, o THS caracteriza-se como um recurso preventivo adicional frente a mudanças sociais mais amplas, que incluem intervenções persistentes nos contextos escolares e comunitários, bem como o desenvolvimento de políticas públicas efetivas nessa área.
Referências
Barreto, S.O., Freitas, L.C. & Del Prette, Z.A.P. (2011). Habilidades sociais na comorbidade entre dificuldade de aprendizagem e problemas de comportamento: Uma avaliação multimodal. Psico-PUCRS, 43 (1), 503-510.
Patterson, G. R., DeBaryshe, B. D. & Ramsey, E. (1989). A developmental perspective on antisocial behavior. American Psychologist, 44 (2), 329-335.
Lösel, F. & Bender, D. (2012). Child social skills training in prevention of antisocial development and crime. In: Welsh, B.C. & Farrington, D.P. (Eds.) The Oxford handbook of crime prevention (pp.102-129). Oxford: Oxford University Press.