Um dos pontos mais discutidos e polemicos que tem sido pauta de debates acalorados nos últimos tempos dentro dos fóruns analitico comportamentais sem duvida é a possibilidade de certificação para analistas do comportamento. Definitivamente tal idéia gera impacto e perguntas importantes que passam desde a desconfiança sobre o processo de certificação até questões mais difíceis como a separação da análise do comportamento da psicologia são feitas.
Recentemente participei de um debate sobre tal tema na USP com grandes nomes da área, tanto em sua esfera politica quanto em sua esfera acadêmica e pude tirar algumas duvidas sobre qual seria o processo e suas justificativas.
A justificativa para a certificação
Atualmente, está ocorrendo um grande avanço da análise do comportamento no Brasil e já somos o maior grupo organizado fora dos EUA. Grande parte do reconhecimento da AC se deve a maior atenção a politicas de saude publica ligada ao tratamento do autismo. Sabemos que a ABA (Aplied Behavior Analisys ou Análise Aplicada do Comportamento) é uma das tecnologias mais avançadas e baseada em evidência para o tratamento do autismo e tal afirmativa chamou a atenção do governo brasileiro (nos EUA, é lei que os tratamentos para autismo sejam ABA), sendo que recentemente houve tentativas de basear os trabalhos com o autismo na esfera publica exclusivamente para terapeutas comportamentais e cognitivo comportamentais gerando com isso furia dos psicanalistas que inconformados com tal medida, lotaram o judiciário com pedidos de liminares para cancelar tais concursos.
A justificativa para a certificação em primeira instância é delimitar quem é e quem não é analista do comportamento realmente qualificado. Com a explosão da demanda por atendimento comportamental para o autismo, inúmeros psicanalistas e terapeutas cognitivos tem migrado para a análise do comportamento sem de fato o ser, fazendo pequenos cursos de poucas horas e com isso alegando que são psicanalistas ou cognitivos, mas que sabem aplicar a técnica ABA (como se ABA fosse uma técnica…) causando grandes problemas para seus pequenos clientes e suas famílias, outro ponto é que tal demanda aquecida faz com que aproveitadores se utilizem de tal espaço para ganhar dinheiro e mais uma vez temos um grande dano aos usuários do serviço e um dano ainda maior aos verdadeiros analístas do comportamento.
O publico não tem como reconhecer a principio quem é e quem não é de fato habilitado para trabalhar com a Análise do Comportamento Aplicada e tal certificação em tese serveria para limpar a área de aproveitadores e profissionais desqualificados. Seria feita uma grande campanha em todos os setores da saude publica com o apoio governamental sobre tais analistas certificados e que em tese seria um tipo de selo de qualidade profissional garantindo ao usuario que tal serviço é de fato realizado por um profissional habilitado. As instituições de saude e as politicas publicas teriam uma referencia importante para selecionar profissionais e essa é a justificativa mais importante para a certificação.
Quem vai fazer a certificação e em quais critérios?
A princípio a ABPMC (Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental) seria a responsavel, mas nada impede que outras instituições façam a certificação. Existe nos EUA o sistema BCBA (Board Certified Behavior Analyst) que faz a certificação de analistas do comportamento realmente habilitados. A prova para a certificação é muito abrangente e exige conhecimentos sólidos em Análise Aplicada do Comportamento, mas esse sistema teria alguns problemas para ser trazido para o Brasil.
O primeiro problema é que é um sistema muito caro para importar para o Brasil e também teria que haver um controle especial da matriz nos EUA e isso por sí só já é bem problemático para a realidade brasileira. Também é preciso ressaltar que no sistema BCBA o analísta do comportamento deve pagar uma taxa anual para manter seu status de certificado nos mesmos moldes que o CRP faz para manter um profissional ativo.
Outro problema é que a certificação vai ser cobrada, mas segundo informações a cobrança não vai ser para a certificação diretamente e sim apenas para pagar os custos operacionais já que teremos que contratar aplicadores e pessoas para corrigir tais provas, mas em nenhum momento vai haver fins lucrativos com essa cobrança.
É importante ressaltar que tal certificação não vai possuir um status regulador da profissão e qualquer um pode se identificar como analísta do comportamento (mesmo sem conhecer seus principios mais básicos) mesmo sem certificação, porém o que estamos tentando fazer é criar um controle de qualidade que vai ser cobrado pela sociedade nos próximos meses ou anos e que é preciso começar em algum momento. Muitos espertalhões estão invadindo a área e cometendo erros absurdos em nome da análise aplicada do comportamento e essa invasão precisa ser contida.
Os critérios ainda não estão claros, mas devem passar por análise de formação especifica e prova sobre conhecimentos especificos por uma comissão. Atualmente um dos melhores guias para a certificação BCBA é o conhecido “Aplied Behavior Analisys” (também conhecido como “The White Book”) do Heward e o conteudo cobrado provavelmente será o mesmo que é exigido para a certificação BCBA. Também está sendo discutido quem estaria dispensado da prova especifica como os mestres e doutores dos programas de psicologia experimental de institutos academicos reconhecidos, mas ainda não se tem consenso sobre tal tema.
Outros profissionais não psicólogos poderiam obter a certificação?
A certificação de analista do comportamento vai ser oferecida apenas para psicólogos de formação. Ainda não foi pensado que outros profissionais pudessem atuar como acontece em outros lugares do mundo. O Brasil não possui legislação especifica sobre o tema e a principio não pode ser campo de trabalho direto de outras profissões.
A certificação causa certo medo nos profissionais, pois pode acelerar a saida da análise do comportamento da psicologia sendo aberta a outras formações e com isso um enfraquecimento da área seria inevitavel segundo alguns opositores.
O tema realmente é muito complexo e os próximos anos vão ser de muitas discussões e decisões difíceis deverão ser tomadas.
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