Depressão: um subproduto da evolução?
As variações genéticas que promovem a depressão apareceram durante o processo evolutivo para ajudar a combater a infeção, sugere um estudo publicado no “Molecular Psychiatry”.
Durante vários anos, os investigadores têm observado associações entre a depressão e a inflamação, ou ativação excessiva do sistema imunológico. Os indivíduos com depressão tendem a apresentar níveis mais elevados de inflamação, mesmo não estando a combater uma infeção. “A maior parte das variações genéticas associadas à depressão afetam o sistema imunológico”, revelou em comunicado de imprensa, um dos autores do estudo, Andrew Miller. “Esta conclusão levou-nos a repensar porque motivo a depressão parece ficar incorporada no genoma”.
“A ideia básica é que a depressão e os genes que a promovem adaptaram-se para ajudar as pessoas, especialmente as crianças, a não morrerem de infeções no ambiente ancestral, apesar dos comportamentos depressivos não ajudarem na relação com os outros”, referiu um outro autor do estudo, Charles Raison.
A infeção foi a principal causa de morte no início da história da humanidade, assim sobreviver à infeção foi determinante para a herança da informação genética. Os autores do estudo propõem que tanto a evolução como a genética atuaram por forma a selecionarem os sintomas depressivos e as respostas fisiológicas que melhor permitissem a redução da mortalidade pela infeção. A febre, o cansaço, a falta de contato social e a anorexia podem ser vistos como comportamentos adaptativos necessários para conter a infeção, explicam os investigadores.
Esta teoria fornece uma nova explicação para o fato do stress ser um fator de risco para a depressão. A associação entre o stress e a depressão pode ser vista como um subproduto de um processo de pré-ativação do sistema imune, tal como acontece quando o sistema imune se prepara para estar pronto a reagir, antecipando a ocorrência de uma ferida. Do mesmo modo, a interrupção dos padrões de sono pode ser vista tanto como um distúrbio de humor como também um sinal de que o sistema imune está ativado. Isto pode ser o resultado dos nossos antepassados terem de ficar alertas para se defenderem de predadores após uma lesão, refere Andrew Miller.
Esta nova teoria poderá ajudar a conduzir as investigações futuras sobre a depressão. Em particular, a presença de biomarcadores para a inflamação poderão ser capazes de prever se as pessoas irão responder a vários tratamentos para a depressão. Os autores do estudo estão envolvidos em projetos de investigação que têm por objetivo perceber se determinados medicamentos, que são normalmente utilizados para tratar doenças autoimunes, podem ser eficazes nos casos da depressão resistente ao tratamento.
Fonte: Psicologia.pt