Quando o hipocampo produz novos neurônios, as memórias adquiridas mais recentemente são mais bem retidas e recordadas, enquanto que as mais antigas começam a ser difíceis de lembrar devido a ‘interferências’
Com a ajuda de computadores, cientistas argentinos decifraram mecanismos associados ao esquecimento que podem servir para desenvolver tratamentos contra a depressão e doenças degenerativas como o mal de Alzheimer.
Pesquisadores do Instituto Universitário do Hospital Italiano de Buenos Aires desenvolveram um simulador do hipocampo, região do cérebro capaz de lembrar de situações, através de um modelo matemático em computador. O maior objetivo é desenvolver uma tecnologia que ajude a criar um ‘chip’ que possa ser implantado em pessoas com doença e que ative os processos da memória, disse Pablo Argibay, um dos autores. “Seria um chip que potencialmente possa fazer as funções do hipocampo. É uma tecnologia que ainda não está disponível, mas que poderia ajudar quem sofre de doenças degenerativas”, diz.
Os cientistas detectaram que quando o hipocampo gera novos neurônios, as memórias adquiridas mais recentemente são mais bem retidas e recordadas, enquanto que as mais antigas começam a ser difíceis de recordar devido a ‘interferências’ produzidas pelos novos neurônios. Para isso, os especialistas desenvolveram várias fórmulas que explicam o funcionamento do cérebro e simulam o acionamento do hipocampo. “Há poucas [áreas] do cérebro que geram novos neurônios. As células criadas no hipocampo ajudam a aceitar a novidade, isto é, a nova lembrança fica registrada. As pessoas que têm esse processo comprometido têm lembranças muito antigas, mas perdem as novas”.
“O fato de conhecer o funcionamento do hipocampo mediante o uso do simulador estimula desenvolver novas teorias sobre como poderia acontecer o esquecimento e como poderíamos intervir no fenômeno”, diz o autor.
O hipocampo está associado à chamada memória episódica, que permite lembrar um evento a partr de algum de seus componentes. A pesquisa foi baseada na neurogênese, descoberta na década de 1980 pelo cientista argentino Fernando Nottenbohm, que contradisse a hipótese aceita durante décadas de que não se criavam novos neurônios no cérebro adulto. “Se algumas demências se produzem como consequência da perda da criação de neurônios, poderíamos recuperar essa capacidade com uma terapia baseada em células-tronco ou substâncias para que o fenômeno aconteça”, diz.
Por agora, no laboratório do instituto, um robô será montado com a capacidade de simular a função do hipocampo, o que pode abrir novas descobertas para não esquecer.