Guia de leitura para iniciantes sobre o Behaviorismo Radical e a Análise do Comportamento

É comum que nós do Comporte-se recebamos pedidos de dicas de material de leitura sobre diversos temas relacionados ao Behaviorismo Radical e à Análise do Comportamento – desde a visão da abordagem sobre determinados assuntos de interesse da Psicologia, como psicopatologias ou comportamentos específicos, até aqueles mais gerais, para quem está começando a se interessar pela abordagem (ou, para ser justa, mesmo pra quem não se interessa, mas precisa, por motivo de força maior, fazer algum trabalho de faculdade ou coisa assim). Com isso, resolvi reunir as dicas que costumo passar mais frequentemente neste texto, pois elas podem ser úteis para aqueles que estão mais “perdidos”, ou mesmo para aqueles que já conhecem um pouco, mas querem mais sugestões de leitura. 


Este texto é um complemento aos guias que o Rodrigo Oliveira publicou tempos atrás. Se quiser saber mais sobre como encarar o BR e a AC, confira também aqui e aqui. Vamos lá: 

1. Sobre o Behaviorismo Radical de Skinner

Entender a filosofia por trás da Análise do Comportamento não é a tarefa mais fácil pra quem dá de cara com ela, nos primeiros momentos da sua formação. “Como assim, não existe mente?”, “Mas por que experimentos com ratos, se eles são tão diferentes dos humanos?”, “E o cérebro, que papel tem nisso tudo?”, “E o inconsciente, não existe também?”, “E os sentimentos, pensamentos, e a alma, a Vida, o Universo e Tudo Mais?”. Nenhum behaviorista radical nasceu behaviorista radical (imagina… não viramos behavioristas por motivos natos e sim aprendidos!), então todo mundo passa ou passou por algum questionamento desse tipo. É mais do que normal se enrolar todo quando se conhece os pressupostos do BR/AC – já que eles vão de encontro a muitas das ideias que temos sobre Psicologia no senso comum, e mesmo quanto a outras abordagens. (Tem quem não só se enrole, mas rejeite de cara essas ideias, o que é uma pena… Mas se você leu até aqui, é porque está a fim de dar mais uma chance a elas, espero!)
Um livro que se presta justamente a apresentar tais ideias, como o título já diz, é o Compreender o Behaviorismo, de William Baum. O autor apresenta aspectos filosóficos e conceituais de forma muito didática e completa, acessível para qualquer estudante dedicado que queira uma boa introdução ao mundinho behaviorista (que, aliás, é um mundão, indo desde os aspectos mais básicos do comportamento humano e animal até os mais abrangentes, como cultura, evolução da espécie, ciência e desenvolvimento da psicologia como tal).
E, para ajudar a resolver a confusão entre o Behaviorismo de Watson – que se convencionou chamar de Metodológico – e o Radical de Skinner, um texto simples e fácil de ler é a palestra “Behaviorismo Metodológico e Behaviorismo Radical”, de Maria Amélia Matos, disponível aqui. Matos fala dos pontos-chave de duas das etapas mais conhecidas da teoria comportamentalista e ajuda a entender as diferenças fundamentais entre elas.
2. Sobre a análise experimental do comportamento (AEC)
Compreender a Análise do Comportamento em laboratório requer, além de conhecer bem os fundamentos da teoria behaviorista radical, familiaridade com os termos usados em laboratório. Saber o que é linha de base, esquemas de reforço, treino discriminativo, variável dependente e independente, frequência acumulada… tudo isso vai se tornando mais fácil à medida em que vamos lendo e praticando, mas felizmente também há muitos livros que ajudam na tarefa de recordar e fixar o aprendizado de tantas siglas e termos novos. Uma ótima referência para isso é o livro Princípios Básicos de Análise do Comportamento, de Márcio Borges-Moreira e Carlos Augusto de Medeiros. A linguagem do livro é super fácil e a didática impecável. 
Um outro livro muito completo que dá um panorama geral da análise do comportamento, mas ajuda muito a ficar afiado na AEC é o clássico Aprendizagem, de A. Charles Catania. Ele, por sua vez, é um pouco mais difícil de ler, embora apresente com mais detalhes e de maneira mais completa o que o livro do Moreira & Medeiros.
3. Sobre clínica comportamental
A clínica em psicologia é um dos aspectos aplicados que vêm à cabeça quase sempre, e conhecer a forma de lidar com situações e questões clínicas é uma curiosidade que surge em quase todo mundo durante seus estudos de Psicologia. Existem muitos livros sobre clínica comportamental disponíveis no mercado brasileiro, graças aos esforços de diversos autores nacionais em produzir e traduzir material nessa área. Para um começo, um bastante interessante é o recentemente lançado Clínica Analítico-Comportamental, de Nicodemos Borges e Fernando Cassas, que apresenta os conceitos básicos do BR em diálogo com a clínica e traz também capítulos sobre temas recorrentes e abrangentes, como clínica infantil, intervenções em terapia, clínica com grupos, acompanhamento terapêutico, entrevistas, etc. Além dele, existem diversos outros que seria injusto não citar, dentre eles: Terapia Comportamental e Cognitivo-Comportamental: Práticas Clínicas, de Abreu e Guilhardi; Análise Comportamental Clínica, de Ana Karina de-Farias; Análise do Comportamento: Avaliação e Intervenção, de Maria Regina Cavalcante; e os dois volumes dos livros Psicoterapia Comportamental e Cognitiva, organizados por Bernard Rangé, e muitos outros.
Sobre isso, uma dica: muitos livros que trazem no título a denominação “Terapia Cognitivo-Comportamental” trazem na verdade a perspectiva da Terapia Cognitiva de Beck e colaboradores, além de outras nem sempre diretamente ligadas à terapia analítico-comportamental baseada nos princípios skinnerianos – por isso, é bom dar uma conferida antes de comprar ou pegar numa biblioteca um livro assim para saber do que ele trata e se cabe nos seus objetivos.
Vale escolher um dos livros que citei pra ler primeiro, e depois, a depender da demanda que você passe a ter quanto a temas específicos em clínica (psicopatologias, clínica infantil, terapia de grupo, com casais, etc.), vá buscando e lendo outros textos. E, para se atualizar, buscar artigos em periódicos científicos é fundamental.

4. Lendo Skinner
Muita gente começa a ler Skinner por um dos seus livros mais sucintos e que sugere uma introdução, até pelo título: o Sobre o Behaviorismo. Eu acredito que ele não seja, apesar do tamanho e da acessibilidade, o livro mais indicado para começar, já que nele o Skinner não estava exatamente apresentando a sua teoria e sim enfocando pontos-chave da psicologia sobre os quais o BR recebeu críticas, como o status do pensamento e do sentimento, a  percepção, a consciência, as causas e o controle do comportamento. Uma leitura mais proveitosa do Skinner, que tem fama de não ser lá tão didático, talvez necessite de conhecer um pouco mais as bases do que ele tinha a dizer sobre o comportamento e a psicologia e para isso, acredito que ler primeiro o Ciência e Comportamento Humano seja o mais adequado.

Neste livro, Skinner apresenta os fundamentos da sua teoria sobre o comportamento, seus principais conceitos e as aplicações na vida cotidiana, em vários aspectos como ciência, educação, clínica, cultura e sociedade, etc.
Fato é que ler Skinner, independente de por onde você comece, é indispensável para conhecer afinal qual era o seu pensamento. Em textos de comentadores ou de manuais de psicologia é recorrente encontrar equívocos sobre a teoria, derivados de desconhecimento ou mesmo da rejeição de vários ao pensamento skinneriano. 
Ok, já sei por onde começar, mas como começar?
Ninguém vai ler esse monte de coisas de uma vez, é claro, por mais interessado e bem-intencionado que esteja. Dá pra começar por um dos livros e ir buscando outros aos poucos. Você pode começar pelos textos do próprio Skinner, e caso tenha dificuldade de entendê-lo de cara, buscar textos auxiliares como o livro do Baum. Se não houver dificuldade, já pode ir passando pra textos mais específicos de acordo com o seu interesse.

Essa é a minha pequena coleção, espero aumentar bastante ainda. xD
Vale também pedir mais indicações de leitura a professores e alunos mais avançados, que podem trazer coisas novas além das que citei e mesmo discutir pontos mais difíceis. Grupos de estudo também são ótimos para isso, assim como a inserção em grupos de pesquisa. A pesquisa em periódicos científicos é maravilhosa para se atualizar com o que vem sendo produzido e encontrar respostas para aquilo que foi apenas pincelado nos livros.
E, para tudo o mais, basta manter a curiosidade aguçada, o senso crítico bem alerta e, independentemente da sua abordagem afinal de contas, o interesse por conhecer coisas novas e ir além do que foi dito caso a dúvida persista.
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Classificação do artigo

Escrito por Aline Couto

Tem 22 anos e reside em Salvador, BA. Formada em Psicologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Durante o curso, aproximou-se da Análise do Comportamento, da Psicologia Cognitivo-Comportamental e da Neuropsicologia. Participou de grupos de pesquisa sobre Neuropsicologia Clínica e Cognitiva e Análise do Comportamento e Cibercultura na sua faculdade, além de grupos de estudo sobre Behaviorismo Radical.

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