Falando sobre a Psicologia e a prática dos Psicólogos
Muita gente desconhece o que o Psicólogo de fato faz. Não é raro sua prática ser associada ao misticismo ou seu papel ser confundido com o de um amigo, que ouve e acolhe o sofrimento do outro sem se propor a realizar qualquer intervenção técnica sobre a situação. É comum, também, confundirem-no com o Médico Psiquiatra, profissional cujo trabalho é bastante diferente e, em muitos casos, complementar. Com frequência, observa-se também que muita gente acredita que o Psicólogo atende apenas gente maluca¹ e, por este motivo, não há porque procurá-lo a menos que seja maluco. Pretendemos, aqui, desconstruir estas ideias.
Hoje falaremos um pouco sobre o Psicólogo e sua atuação, desconstruindo alguns mitos e expondo algumas particularidades de sua prática. Para fins didáticos, o texto está organizado em forma de tópicos com perguntas comumente feitas sobre a profissão, e espera-se por meio delas, sanar dúvidas da população sobre o assunto.
O que é um Psicólogo?
O Psicólogo é um profissional graduado em Psicologia, curso com duração média de 5 anos, em que se estuda uma série de teorias sobre porque as pessoas se comportam da forma como se comportam e como é possível ajudá-las a superar suas dificuldades e/ou desenvolverem-se de algum modo.
O um Psicólogo faz?
A resposta a esta pergunta pode variar de acordo com o campo e método de trabalho do profissional. Na Clínica, o Psicólogo busca ajudar o cliente a compreender as causas de seu sofrimento e encontrar formas de superá-lo. Ele não atende apenas portadores de transtornos psiquiátricos (depressão, esquizofrenia, pânico, entre outros), mas qualquer pessoa que esteja insatisfeita com algum aspecto de sua vida e queira melhorá-lo, como por exemplo, casamento, trabalho, educação dos filhos, entre outros.
Como o Psicólogo trabalha?
A resposta a esta pergunta também irá variar de acordo com o campo e método de trabalho do Psicólogo. O Campo de trabalho é o contexto no qual ele atua, contexto este, que pode ser clínico, organizacional, educacional, social/ comunitário, hospitalar/ saúde, esporte, jurídico, trânsito, entre outros. Cada um destes contextos² possui um conjunto de demandas (necessidades) específicas, que exigem do Psicólogo um conjunto de estratégias específicas para atendê-las. Estas estratégias também podem variar conforme seu método de trabalho.
O Método de trabalho do Psicólogo é baseado em sua teoria de estudo, que pode ser Comportamental, Cognitivista, Psicanalítica, Sistêmica ou outra, dentre as tantas reconhecidas pelo Conselho de Psicologia. Cada uma delas possui uma forma particular de compreender e explicar o comportamento humano, e a partir dessas particularidades, variam também as formas de lidar com os problemas levados à clínica.
Enquanto alguns psicólogos prezam por um método que estimula mais a escuta diante dos problemas relatados, outros trabalham fundamentados em abordagens que incentivam o diálogo constante e vínculo colaborativo entre terapeuta e cliente. Os Psicólogos Comportamentais, por exemplo, participam ativamente do processo terapêutico fazendo perguntas, comentários e propondo atividades que levem o cliente a compreender melhor seu problema e desenvolver estratégias para superá-lo. A intervenção é feita a partir de uma análise cuidadosa do que o levou a procurar ajuda e de sua vida de forma geral, e via de regra, busca promover a autonomia daquela pessoa, de forma que ela própria seja capaz, no futuro, de identificar fatores desencadeadores de problemas e eliminá-los, evitando recaídas.
Qual a diferença entre Psicólogo e Psiquiatra?
A primeira e mais importante diferença encontra-se na formação destes profissionais. Para se denominar Psicólogo é necessário cursar Psicologia e obter registro no Conselho Regional da profissão. Para se denominar Psiquiatra, é necessário cursar Medicina e, posteriormente, residência em Psiquiatria em uma instituição reconhecida pelo órgão regulamentador da categoria.
A formação do Psiquiatra, em Medicina, é voltada especialmente aos aspectos biológicos do adoecimento e geralmente sua intervenção é medicamentosa. Com base em seus estudos sobre o funcionamento do organismo, o Psiquiatra avalia cuidadosamente a constelação de sintomas apresentados por seu paciente e realiza um Diagnóstico baseado no DSM IV ou CID 10, que são manuais utilizados internacionalmente com o objetivo de nomear conjuntos específicos de sintomas que costumam aparecer juntos. Por exemplo, quando o paciente apresenta rebaixamento do humor, redução da energia e diminuição da atividade, redução na capacidade de experimentar prazer, diminuição na capacidade de concentração, problemas no sono e apetite, entre outros, diz-se que a descrição de suas dificuldades atende aos critérios de Transtorno de Humor com episódios depressivos.
A partir deste diagnóstico o Psiquiatra prescreve um ou mais fármacos que, em tese, atuam diretamente sobre os fatores fisiológicos associados ao transtorno de seu paciente, estabilizando sua condição orgânica e, consequentemente, sua capacidade de interagir de forma saudável com o mundo.
A formação do Psicólogo é voltada especialmente aos aspectos interacionais do adoecimento, e sua intervenção geralmente é Psicoeducativa. Enquanto o médico estuda o funcionamento do organismo, o Psicólogo estuda a forma com que este organismo interage com o ambiente e como um afeta o outro, não só no desenvolvimento dos transtornos psicológicos, mas da personalidade em geral. O Psicólogo identifica na história e condições atuais de vida de seu cliente, quais fatores contribuíram para seu adoecimento e quais fatores contribuem para que ele continue apresentando algum tipo de sofrimento psíquico. A partir disso, ajuda a pessoa a desenvolver estratégias para superar aquela dificuldade e prevenir novos problemas no futuro.
Voltando ao exemplo da depressão, imagine que o cliente está com o humor tão rebaixado que sequer consegue pensar em possibilidade de melhora. O Psiquiatra prescreve um medicamento deve ter como efeito a melhora no estado do humor daquela pessoa, que a partir disso, tem um aumento em sua disposição para agir. O Psicólogo, por sua vez, deve criar condições para que ela compreenda o que a levou a desenvolver a depressão e resolver aqueles problemas, voltando a sentir prazer na vida e a fazer o que gosta.
Como decidir se procuro um Psiquiatra ou um Psicólogo?
A maioria dos transtornos psiquiátricos descritos no DSM IV ou no CID 10 é causada por uma complexa interação entre fatores orgânicos e relacionais. Nestes casos, tanto faz procurar primeiro o Psicólogo ou o Psiquiatra, porque via de regra, o tratamento será feito em conjunto pelos dois profissionais e um realizará o encaminhamento para o outro. Quando sua dificuldade não se trata, no entanto, de um transtorno psiquiátrico, basta procurar o Psicólogo. Exemplos de dificuldades que podem não estar diretamente relacionadas a transtornos psiquiátricos: problemas para conseguir emprego; problemas no namoro, casamento ou relações sociais de forma geral; dificuldades para expressar o que se pensa e/ou sente; dificuldades na educação dos filhos; entre outras. No entanto, apenas um profissional qualificado poderá dizer se realmente não existe nenhum transtorno psiquiátrico associado. A dificuldade para expressar o que se pensa ou sente, por exemplo, pode ser parte de um quadro de Fobia Social.
Como escolher um Psicólogo?
Esta é, certamente, a pergunta mais difícil a ser respondida. Muitas pessoas reclamam que passaram anos em terapia e ainda assim não resolveram seu problema. O interessante é que quando isso ocorre, a crítica é dirigida à Psicologia como um todo e não ao Psicólogo responsável pelo processo terapêutico frustrado. Talvez isto ocorra porque muitos Psicólogos realmente não conseguem conduzir um processo terapêutico efetivo, que de fato contribua para a melhora do cliente. Mas, ainda assim, insisto que a Psicologia como um todo não deve ser culpada; mas, ao contrário, os critérios para escolha do profissional devem ser melhor definidos.
É verdade que alguns Psicólogos são pouco comprometidos resultados palpáveis, no sentido em que questionam se alguém que sequer conseguia sair de casa e agora leva uma vida social saudável e moderada realmente melhorou de sua fobia social. Profissionais com este perfil, em geral, preocupam-se mais com o que diz sua teoria de estudo do que com o que diz e/ou sente seu paciente. Mas, felizmente, nem todos são assim. Muitos Psicólogos buscam realmente ajudar seu cliente a encontrar uma solução real para aquilo que o faz sofrer e embasam suas intervenções em um corpo sólido de conhecimento científico. Seguem algumas dicas para ajudar a identificar estes profissionais:
1 – Ao obter indicação de um Psicólogo, verifique se aquele profissional está cadastrado no Conselho Regional de Psicologia. Para obter esta informação peça o número do registro no CRP deste profissional e acesse o site do Conselho Regional de Psicologia de seu estado. Lá você encontrará um espaço para verificar. Caso não encontre, vale a pena ligar no Conselho e se informar.
2 – Procure saber se o profissional que irá procurar busca se atualizar por meio de cursos de especialização, extensão, participação em congressos e/ou grupos de estudo e discussão;
3 – Informe-se com amigos que já passaram por terapia o que eles acharam daquele profissional que os atendeu. Importante notar que não basta o Psicólogo ser “bonzinho”, mas é preciso saber se ele de fato contribuiu para a melhora de seu amigo;
4 – Informe-se sobre o método de trabalho do psicólogo. Se ele adota uma postura ativa, colaborativa e aberta com seus clientes, é mais provável que ele te ajude de modo mais efetivo.
5 – O fato de uma pessoa buscar terapia “hoje” não significa que ela não precisará buscar novamente em outro momento. Assim como no caso das doenças médicas, os problemas psicológicos podem reaparecer no futuro ou outros problemas podem surgir, fazendo-se necessário procurar terapia mais uma vez.
6 – Informe-se com outros profissionais, como Médicos Psiquiatras e Neurologistas, outros Psicólogos, Pedagogos ou outros profissionais da saúde sobre quais Psicólogos eles recomendam;
¹ – Jargão popular utilizada quando se quer dizer que o Psicólogo atende apenas portadores de transtornos psiquiátricos graves.
² – O site do CRP do Paraná [http://migre.me/9xXv1] possui uma descrição de como trabalha o Psicólogo em alguns dos campos de atuação citados.
LINKS CONSULTADOS
Como escolher um Psiquiatra?. Psicosite. Consulta em 19/jun/12. Disponível em: http://www.psicosite.com.br/div/como_escolher.htm
Reis, H. L. S. (2009) .Psicologia: o que é isso?. Araripina. Consulta em 19/jun/12. Disponível em: http://www.araripina.com.br/psicologia-o-que-e-isso
Transtornos do Humor (Afetivos): Episódios Depressivos. Psicosite. Consulta em 19/jun/12. Disponível em: http://www.psicosite.com.br/cla/c_humor.htm#32