[Entrevista Exclusiva]: Sandro Iego – O Transtorno Obsessivo Compulsivo

Entrevista concedida ao Comporte-se: Psicologia Científica por Sandro Iego durante o III Encontro de Análise do Comportamento do Vale do São Francisco, promovido pela UNIVASF – Universidade do Vale do São Francisco, Campus Petrolina. 

Sandro Iego é especialista em Neuropsicologia e mestre em Medicina e Saúde pela UFBA. Doutorando em Processos Interativos dos Órgãos e Sistemas pela UFBA. Atua como psicólogo, neuropsicólogo e analista do comportamento com ênfase em Transtorno Obsessivo-Compulsivo, Neuropsiquiatria e Psicoterapia Analítico-Comportamental no Instituto Baiano de Análise do Comportamento – IBAAC 

Entrevista baseada na palestra: Análise Funcional do Transtorno Obsessivo-Compulsivo: implicações clínicas e relações com a neuropsicologia 
1. Você, durante a discussão, citou características que são preditivas de um bom prognóstico para o TOC, principalmente relacionadas à família. Poderia citar mais características, as mais importantes e como elas podem influenciar de maneira positiva no tratamento? 
São características da família do paciente, como a acomodação familiar. Uma família que se acostuma com os comportamentos obsessivo-compulsivos do paciente e os reforça, provavelmente vai influenciar a termos um mau prognóstico no tratamento. A família pode ajudar o cliente no sentido de reforçar os comportamentos alternativos, ou seja, os de não-obsessão ou compulsão. Essa seria a estratégia mais interessante. 

2. Você falou da técnica de Exposição com Prevenção de Resposta (EPR) como a mais recomendada e que é considerada padrão-ouro para o tratamento do TOC. Quais as situações em que a EPR pode não ser tão efetiva e quais as alternativas para o tratamento? 
Quando você tem casos em que as compulsões são rituais encobertos, a EPR tem pouca efetividade. Quando temos casos de obsessões puras, não é tão recomendada. Também não é muito recomendada quando o cliente tem pouca motivação para o tratamento. O que a gente tem, na verdade, como alternativa seria uma adaptação do EPR para essas atividades. Por exemplo, na hora da prevenção da resposta, a gente poderia pedir para que o cliente fizesse outra coisa alternativa, como contar 200 menos sete. Aí contaria, 193, depois 186 e 179. Assim ele vai diminuindo. Fazendo isso, ele vai ter uma possibilidade menor de fazer um ritual encoberto, pois ele estará ocupado fazendo outra coisa. 

3. Durante sua apresentação, você “traduziu” termos utilizados na psiquiatria (obsessões e compulsões) para a linguagem analítico-comportamental, definindo-os como respostas. Sabe-se da dificuldade de contato da AC com outras áreas e disciplinas devido a questões terminológicas. Diante disto, você poderia falar mais a respeito da importância de definir comportamentalmente conceitos “mentais” e vice-versa? 
Talvez fosse mais interessante a gente conseguir traduzir, definir a nossa linguagem comportamental para uma linguagem que as pessoas possam compreender. Por que eu acredito que a forma que a gente fala em alguns momentos faz que nós sejamos mal compreendidos em nossas propostas. Então, saber traduzir o que as demais pessoas falam para a gente é mais fácil. Mas talvez o analista do comportamento precise ser melhor compreendido, o que eu acho que seria um grande desafio para a gente. 

4. Durante a apresentação, foram muito bem explicitadas causas biológicas e ontogenéticas para a aquisição de respostas obsessivo-compulsivas. No entanto, gostaria de saber mais acerca da relação entre práticas culturais que favoreçam o seu desenvolvimento. Existem dados a respeito desta relação? 

Existe o campo da etnopsiquiatria que estuda a manifestação clinica do Transtorno Obsessivo Compulsivo em diferentes culturas e, de um modo geral, parece que a sua manifestação clinica independe da cultura. Porém, a cultura em que as pessoas vivem influencia na forma em que o TOC vai se manifestar. Por exemplo, em uma cultura muito religiosa, o conteúdo religioso do TOC vai ter uma alteração. Mas parece que, de um modo geral, a manifestação clínica em relação aos sintomas que seriam a agressividade, colecionismo, rituais de limpeza, enfim, esses comportamentos não seriam muito modificados pela cultura. A questão é a expressão da manifestação.
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Escrito por Júlia Ferraz

Graduada em Psicologia pela Universidade Federal do Vale do São Francisco - UNIVASF. Fez iniciação científica pelo PIVIC: “Efeitos do Controle Verbal em Microculturas Experimentais”; organização dos Encontros de Análise do Comportamento do Vale do São Francisco; monitoria na disciplina de Análise Experimental do Comportamento; está na Liga Acadêmica de Análise do Comportamento do Vale do São Francisco (LAAC-VASF) e é uma das organizadoras do Grupo de Estudos vinculado à Liga.

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