Diversos autores da Psicologia postulam fases ou estágios (ou ainda, estádios, para alguns destes) do desenvolvimento, nos quais, cada fase caracteriza-se por um conjunto de comportamentos, cognições ou sentimentos que o indivíduo pode apresentar. A divisão destas fases geralmente ocorre por:
1) Estruturas Psíquicas ou da Personalidade inferidas;
2) Estruturas Cognitivas ou redes de Pensamento possíveis;
3) Idade Cronológica do sujeito.
Alguns exemplos de autores que dividem os estágios de acordo com o primeiro tipo de divisão apresentado, são Freud e Erickson, com suas teorias do desenvolvimento Psicossexual e Psicossocial. O autor mais proeminente, que classifica as fases do desenvolvimento de acordo com o segundo tipo de divisão apresentado, é Jean Piaget, que fala sobre os estádios do desenvolvimento cognitivo. Já o terceiro tipo de divisão, pode ser exemplificado com autores como Hurlock e Gesell, que defendem que a criança tem o comportamento dos três anos, comportamento dos quatro anos e assim por diante.
Bijou e Baer (1980) levantam certas críticas a estes modelos de teoria do desenvolvimento e apresentam a proposta elaborada por Kantor, autor Interbehaviorista, que fala do desenvolvimento infantil não com base em estruturas da personalidade ou cognitivas, mas a partir do tipo de interação que o indivíduo é capaz de estabelecer com o mundo.
De acordo com os autores, embora as divisões das fases do desenvolvimento de acordo com idade cronológica ou teorias da personalidade sejam bastante práticas e objetivas, elas são muito arbitrárias para alguém que deseje realizar um estudo mais detalhado das relações entre períodos sucessivos. Advertem também que interações significativas não ocorrem de maneira sincronizada o bastante para que se fale de comportamentos esperados por cada fase da vida, e que, mais do que estar em uma fase, sã os tipos de relação que a criança estabelece com o mundo que favorecem ou não o aparecimento de certos tipos de comportamento.
Ainda de acordo com os autores, ao eliminarmos as teorias que dividem o desenvolvimento pela idade cronológica ou teorias da personalidade, nos resta dividir e delimitar o fim de cada estágio de acordo com dois outros tipos de critérios. O primeiro, baseia-se em fatos observáveis, manifestações comportamentais, eventos sociais ou maturação biológica. Já o segundo, baseia-se nos tipos de interação que o indivíduo é capaz de estabelecer com o meio que o circunda. É esta a perspectiva adotada por Kantor.
De acordo com Bijou e Baer, Kantor divide as fases do desenvolvimento da seguinte maneira:
1) Fase Fundamental
O indivíduo comporta-se como um sistema unificado, mas é bastante limitado pelas suas características orgânicas. As interações que o organismo estabelece nesta fase são basicamente reflexas e de certo modo, comuns a todos da espécie. Além dos reflexos, o indivíduo apresenta também movimentos aleatórios, descoordenados e aparentemente ainda desligados dos efeitos da estimulação ambiental.
Quando confrontados com o meio, estes comportamentos serão modificados (modelados), de modo a tornarem-se coordenados e adquirirem funções no ambiente. Deste modo, a criança começa a ser capaz de estabelecer outros tipos de interação com o mundo, passando gradativamente para o próximo estágio.
2) Básico
A movimentação reflexa e aleatória inicial vai aos poucos dando lugar a movimentos coordenados, sistemáticos, os quais agem sobre o ambiente com certa finalidade, adquirindo função. A pessoa torna-se mais independente de seus cuidadores, tornando-se capaz de executar tarefas cada vez mais complexas. “É nesse momento em que a criança passa por experiências que não são comuns a todas as crianças (…), e as habilidades e conhecimentos adquiridos na fase anterior – e nesta também – tornam-se mais elaboradas”, à medida que a criança vai experienciando e explorando o mundo.
3) Societário
Neste estágio a criança começa a se socializar e a explorar regras sociais, instrução formal, elementos culturais e simbólicos cada vez mais complexos. Esta habilidade torna-se cada vez mais refinada à medida que a pessoa experiencia o mundo.
Bijou e Baer (p.31) explicam que, em geral, podemos dizer que o primeiro estágio tem início no pré natal e vai até a idade que costumamos chamar de fim da infância. O segundo estágio começa neste ponto e vai até a idade escolar ou pré-escolar. Já o terceiro estágio, que é quando a criança torna-se um ser social, começa neste ponto e vai até a idade adulta.
Em suma, o que os autores procuram explicar, é que a divisão dos estágios do desenvolvimento em uma perspectiva Comportamental ocorre de acordo com o caráter predominante das interações do indivíduo com o mundo naquele período. Sobre os marcos apresentados (pré-natal a fim da infância, fim da infância a pré-escolar e escolar a idade adulta) são simples acidentes sociológicos e não essências do desenvolvimento. Lembram ainda que é bastante comum observar características de estágios diferentes em uma mesma criança, já que passagem por eles ocorre de acordo com os estímulos que ela recebe.
Referência do livro citado no texto:
BIJOU, S, W., BAER, D.M. (1980). O Desenvolvimento da Criança: Uma Leitura Comportamental. São Paulo: EDU.
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