Críticas ao Behaviorismo: preconceitos e discordâncias

O Behaviorismo sempre foi alvo de muitas críticas, desde a sua origem. Tanto o Behaviorismo Clássico de Watson, quanto o Behaviorismo Radical de Skinner, são acusados das mesmas falhas. Na verdade, boa parte das críticas dirigidas ao Behaviorismo de Skinner referem-se não às suas características, mas a características do Behaviorismo de Watson.Idéias como a de que o Behaviorismo ignora processos cognitivos e afetivos, ou não leva em conta o que há de único, subjetivo e particular no sujeito; ou ainda a idéia de que o Behaviorismo entende o ser humano como um organismo passivo diante do meio, entre tantas outras, são claramente fruto de dessconhecimento acerca da abordagem. Estas são, em grande parte, características do Behaviorismo Clássico deWatson e não do Behaviorismo Radical de Skinner. Deste modo, as críticas não se aplicam a abordagem vigente. Pode-se falar também de certo desconhecimento dos críticos a respeito da evolução da abordagem, confundindo a atual Análise do Comportamento com a chamada Modificação do Comportamento, vigente até por volta dos anos 80.

 
 
A modificação do Comportamento não dava mesmo muita atenção a processos cognitivos, afetivos ou que requeriam uma análise mais ampla do contexto. Para eles, bastava que fosse feita uma Análise Funcional, alteradas as variáveis, e pronto, não investigando, p.e., as regras que poderiam estar participando do controle daqueles comportamentos alvo, e tão pouco um contexto mais amplo, como história de vida ou demais relações mantenedoras. Banaco, em seu texto Técnicas Cognitivo Comportamentais e Análise Funcional explica que em casos em que apenas a resposta é analisada, o risco de que haja o que se chama Substituição do Sintoma é grande. O autor alerta para para a necessidade de uma análise mais ampla do contexto – o que tem sido feito já há alguns anos.
Voltando às críticas, é de extrema relevância citar Maria Ester Rodrigues (2006). A autora desenvolveu uma pesquisa em que entrevistou diversos ex-behavioristas para verificar o quão fidedignas às características da abordagem eram suas críticas. Conforme explica, a necessidade de conhecer o assunto criticado é asserção não mais do que morna, e parece ser óbvia. No entanto, a palavra behaviorismo é maciçamente criticada (…), na maior parte das vezes baseando-se na leitura de terceiros ou, ainda, por uma leitura bastante enviesada da obra de especialistas (p. 141).
 
A autora dividiu as críticas em duas categorias. São elas:
 
1) Equívocos: nesta categoria se enquadram críticas derivadas de preconceitos com relação à abordagem; ou, nas palavras da autora, “críticas que não resistiriam a um exame mais aprofundado da teoria (p. 141). Este preconceito pode surgir a partir de um conhecimento inacurado da abordagem; de confusões com relação aos termos técnicos utilizados ou fatores relacionados ao desenvolvimento do Behaviorismo e a complexidade da obra de Skinner
 
2) Discordâncias filosóficas, epistemológicas ou com relação ao método de trabalho do Analista do Comportamento:  incluem-se aqui discordâncias com relação à concepção de homem do Behaviorismo Radical, de ambiente e de causalidade ou determinação do comportamento (p.158).
 
Conforme explica Rodrigues (2006), caso a pessoa diga que não gosta do Behaviorismo porque acredita que a subjetividade (pensamentos, emoções, e tudo mais o que é particular ao sujeito) é a própria explicação ou causa do comportamento, e não algo mais a ser explicado; ou que o homem é agente único de sua própria história, livre de influências sócio-culturais e biológicas; ou que o homem deva ser dividido em material (corpo) e imaterial (mente, alma, psique), ou, ainda, que o ser humano não pode ser visto como um organismo que teve suas características selecionadas pela evolução das espécies (incluindo consciência, linguagem, etc), sendo portanto também uma espécie (espécie humana) animal; ou, finalmente, da possibilidade de uma ciência que estude o comportamento, terá suas críticas enquadradas aqui.
 
Em uma discussão no grupo Yahoo Comport levantou-se a possibilidade das críticas derivadas de má-fé. Estas seriam aquelas que partem de pessoas que conhecem a abordagem, mas ignoram intencionalmente  (expressão usada com a devida licença literária) suas características com a única intenção de denegrí-la.
 
As críticas derivadas de desconhecimento da abordagem sequer merecem atenção, conforme alerta Maria Ester (2006). As críticas que partem de discordância epistemológica, por sua vez, merecem uma análise discussão mais detalhada.
 
Vejamos: se elas partem de uma concepção de homem diferente; isto é, de uma visão diferente sobre como o homem se constitui, elas não podem ser usadas para invalidar a teoria comportamental, a não ser que o façam por meio de pesquisas controladas, tal qual requerem os métodos das ciências naturais. Fazê-lo, entretanto, é complicado; pois, dado o fato de que as demais abordagens partem de visões de homem distintas, seus métodos de pesquisa também o são.
 
O que quero dizer é, basicamente, que afirmar que o Behaviorismo é inválido porque não leva em consideração o aparelho Psíquico em suas teorizações é o mesmo que dizer que a lingua inglesa não é útil porque não possui a palavra saudade. É uma falácia.
A Psicologia tem um grande problema, a meu ver. Uma teoria mostra-se mais ou menos válida, dentro da academia, pela “profundidade” ou beleza de suas explicações, e não pela sua eficácia ou aplicabilidade prática. Em outras palavras, pouco importa o quanto uma teoria dê condições concretas – isto é, reais, de desenvolvimento de tecnologias que permitam uma melhora efetiva na qualidade de vida do ser humano. Se ela não explica de maneira bonita; isto é, usando termos e conceitos quase poéticos ou que estejam de acordo com crenças pré-concebidas sobre o ser humano, não pode ser aceita.

Referências:

BANACO, R.A. Análise Funcional e Técnicas Cognitivo Comportamentais.

RODRIGUES, M.A. Behaviorismo: mitos, discordâncias, conceitos e preconceitos.

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Escrito por Esequias Caetano de Almeida Neto

Terapeuta Comportamental, com especialização em Clínica Comportamental pelo Instituto de Terapia por Contingências de Reforçamento (Campinas, SP), com Treinamento Intensivo em Terapia Comportamental Dialética pelo Behavioral Tech | A Linehan Institute Training Company (Seattle, Washington/ EUA) e Formação em Terapia de Aceitação E Compromisso e Terapia Analítica Funcional pelo Instituto Continuum (Londrina, PR). É sócio da Ello: Núcleo de Psicologia e Ciências do Comportamento, onde atende a adultos individualmente, em terapia de casais e terapia de família, além de prover Supervisão Clínica e Treinamento para Terapeutas Comportamentais. É fundador e diretor geral do Portal Comporte-se: Psicologia e Análise do Comportamento (www.comportese.com), onde também coordena a equipe de colunistas de Terapia Comportamental Dialética. Coorganizou os livros Terapia Analítico Comportamental: dos pressupostos teóricos às possibilidades de aplicação (Ed. Esetec, 2012) e Depressão: Psicopatologia e Terapia Analítico Comportamental (Ed. Juruá, 2015). Atua como consultor de Comportamento e Cultura para a Rádio Clube (AM 770) de Patos de Minas e escreve sobre Psicologia e Saúde Mental para o jornal Clube Notícia (https://www.clubenoticia.com.br). É sócio afiliado da Associação Brasileira de Análise do Comportamento (ACBr) e, entre os anos de 2015 e 2017, foi membro da Comissão de Comunicação da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental (ABPMC).

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