O 1º Terapia Comportamental Dialética (DBT): Treinamento Intensivo no Brasil… Construindo Vidas que Valham a Pena Serem Vividas

Slide1

Dois mil e quinze sempre será lembrado como um ano histórico para a Terapia Comportamental Dialética (DBT) no Brasil. Talvez, e porque não, para toda a área da saúde mental no Brasil. Mas o que esse ano possui de tão especial para ficar marcado assim? Acontece que em 2015 ocorreu pela primeira vez no Brasil o “Terapia Comportamental Dialética (DBT): Treinamento Intensivo” que foi promovido em parceria pelo Behavioral Tech, o The Linehan Institute, o InTCC e o GEP. Mas afinal de contas, o que exatamente isso significa? Para responder a essa pergunta, bem como para compreender as suas implicações algumas clarificações fazem-se necessárias.

Para os leitores dessa coluna sobre DBT não é novidade que a DBT foi desenvolvida pelo trabalho de Marsha Linehan com pacientes cronicamente suicidas e com comportamentos de automutilação sem intencionalidade suicida (CASIS) (Linehan, 2010). Além disso, cabe salientar que a DBT é considerada a intervenção que possui a maior base em evidências para pacientes com Transtorno da Personalidade Borderline cronicamente suicidas e com CASIS (NICE, 2009). Contudo, você deve estar se perguntando nesse momento… “Ok…Mas o que isso tem haver com esse treinamento e esse monte de instituições??” Acontece que o Behavioral Tech é a instituição que foi fundada por Marsha Linehan onde grande parte dos avanços da DBT foram desenvolvidos. Além disso, Linehan criou também o The Linehan Institute, uma instituição voltada para espalhar a DBT pelo mundo assim como para lutar pelo fim da estigmatização de pacientes com transtornos mentais.

Essas duas instituições desenvolveram um programa para o treinamento de equipes de DBT ao redor do mundo e dessa forma nasceu os treinamentos intensivos em DBT que são realizados em diversos países no mundo. O principal objetivo desses treinamentos intensivos é capacitar profissionais no mundo inteiro para trabalhar da maneira mais efetiva que existe justamente com esses pacientes que tanto necessitam dessa intervenção. Imaginem meus queridos leitores, estamos falando de pacientes nos quais a efetividade da intervenção pode ser a diferença entre eles estarem vivos ou mortos. Dessa forma, não há como um terapeuta comportamental dialético não ficar extremamente realizado e feliz pela expansão para o mundo inteiro dessa intervenção. Sim meus queridos… Estamos falando de salvar vidas… E mais importante do que isso, estamos falando de pessoas que transformam o caos das suas vidas em vidas que valham a pena serem vividas.

Sendo que, a importância de todo esse trabalho se torna ainda mais dramática ao observarmos as principais causas de mortes em jovens no mundo. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) em países que possuam uma avaliação fidedigna dos índices de suicídio, essa se configura como a segunda maior causa de morte de jovens no mundo (OMS, 2014). Pensem em quantos jovens são perdidos por ano por uma causa que é passível de ser trabalhada preventivamente. Além disso, outras duas das três principais causas de morte no mundo envolvem a violência e os acidentes. Ambas altamente relacionadas à desregulação emocional, um dos principais focos de trabalho da DBT (Linehan, 2015). Ou seja, estamos falando a respeito de uma intervenção que, com a sua expansão pelo mundo poderá auxiliar milhões de pessoas que hoje são vítimas dessas condições.

Mas, imagino que vocês ainda possam estar se perguntando… “Ok… Muito interessante, mas qual a relação disso com o Brasil?” É justamente esse o ponto!! Esse 1º treinamento intensivo em DBT no Brasil faz com que não tenhamos tão somente a equipe do GEP em Porto Alegre/RS treinada em DBT para atender essa complexa demanda clínica. Isso amplia exponencialmente a difusão da DBT no Brasil. Ou seja, teremos muitas, mas muitas pessoas com graves comportamentos suicidas e com CASIS que, a partir de agora, terão acesso ao melhor tratamento que a evidência científica aponta para essas problemáticas. Querido leitores estamos falando não mais do atendimento de algumas dezenas de pessoas, mas sim de centenas, milhares e, porque não no futuro, até milhões de pessoas. É realmente isso que deixa, esse quem vos escreve, extremamente feliz e esperançoso para o futuro dentro da saúde mental no nosso país, poder pensar que a DBT poderá atingir muitas pessoas que realmente precisam dela.

Confesso a vocês, meus queridos leitores, que essa oportunidade que hoje se abre aqui no Brasil é fruto de um trabalho árduo que vem sendo desenvolvido pela equipe do GEP de trazer e alicerçar a DBT no Brasil. De fato, não faltaram esforços para a organização e para a difusão da DBT dentro de nosso país. E, hoje, poder olhar para o primeiro treinamento intensivo em DBT no Brasil, que até pouco tempo atrás não passava de um sonho, tornar-se realidade é mais do que motivo de orgulho e felicidade. Para nós é a concretização de que estamos conseguindo construir um caminho baseado em valores que nos são muito especiais. Poder ver pessoas do Rio Grande do Sul, de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Alagoas, do Amazonas, da Bahia, do Ceará, do Paraná e de Santa Catarina nos fazem transbordar de emoção só de imaginar a rede de propagação que a DBT passará a ter a partir de agora.

Durante todos os dias da 1ª parte desse primeiro treinamento intensivo ficou muito claro que possuíamos essa oportunidade única de transformar o sonho da DBT no Brasil em realidade, pois estávamos diante de pessoas extraordinárias de diversas regiões do Brasil que largaram o seu trabalho durante uma semana inteira para virem para Porto Alegre/RS para se dedicarem a aprender uma abordagem de terapia comportamental contextual com o objetivo principal de serem mais efetivos para ajudar essas pessoas que de fato necessitam da DBT. Querido leitores, simplesmente ao escrever isso agora, esse que está aqui escrevendo para vocês, fica emocionado, porque isso sim é lindo e conectado com os mais belos valores de nossa profissão.

Peço a vocês meus queridos leitores que parem um momento e tentem imaginar que, a partir de agora, poderemos ter equipes sólidas de DBT trabalhando em 9 estados diferentes do Brasil. Desenvolvendo uma abordagem de tratamento realmente efetiva para auxiliar pacientes cronicamente suicidas e com CASIS. Podendo ampliar cada vez mais o debate da importância do atendimento para esses pacientes em nosso país. Não há como referir-me a isso sem ser dizendo que sinto que um dos meus grandes sonhos começa a se tornar realidade.

Além disso, poder ver tantas pessoas, de tantos locais diferentes encantadas e apaixonadas com cada momento do treinamento, ávidas por aprenderem cada detalhe que era passado, realmente se esforçando ao máximo em todas as tarefas que eram solicitadas sem sombra de dúvidas é um momento marcante. Mas, não somente isso, escutar o relato das pessoas de o quanto esse treinamento impactou não só na sua prática clínica como em sua vida realmente é algo inesquecível.

Enfim, queridos leitores, não há como concluir esse breve artigo, repleto de emocionalidade e otimismo, sem agradecer efusivamente a todas as pessoas que participaram desse treinamento e agora irão desenvolver em suas cidades equipes de DBT. Além disso, é fundamental agradecer a Preston Thompson CEO do Behavioral Tech por ter tornado esse treinamento possível, assim como por todo o carinho demonstrado a todos nós pelo simples fato de se fazer presente no treinamento do Brasil e pela pessoa maravilhosa que ele é. Também é fundamental agradecer aos treinadores Tony DuBose pelo carinho e pelo brilhantismo na transmissão dos seus conhecimentos e por ter aberto, em conjunto com Pablo Gagliesi e Preston Thompson, a possibilidade para que o autor dessa coluna pudesse, pela primeira vez, exercer a função de treinador. Não obstante a isso, é fundamental agradecer a Pablo Gagliesi que sempre incentivou o trabalho com a DBT no Brasil desde a formação do GEP (primeira equipe de DBT do Brasil) até a concretização desse treinamento. Ainda é importante agradecer a equipe do Behavioral Tech e do The Linehan Institute, em especial a Tricia Satre, Jeff West e Andre Ivanoff por trabalharem incessantemente na viabilização desse treinamento. Também, é importante agradecer ao InTCC por ter abraçado e promovido esse primeiro treinamento intensivo em DBT. Por fim, é fundamental agradecer a toda a equipe do GEP por todo o empenho durante todos esses anos na viabilização desse sonho. Contudo, meus queridos leitores, muitas novidades fantásticas para a DBT no Brasil ocorreram também nesse treinamento, mas isso é um tema para novos artigos… Então se mantenham conectados aqui no Comporte-se… Um grande abraço e obrigado pela atenção de todos!!

 

Referências

Linehan, M. M. (2010). Terapia cognitivo-comportamental para o transtorno da personalidade borderline. Porto Alegre: Artmed.

Linehan, M. M. (2015). DBT skills training manual. New York: Guilford Press.

 

National Institute for Health & Clinical Excellence (NICE) (2009). Borderline personality disorder: the NICE guideline on treatment and management. London: The British Psychological Society and The Royal College of Psychiatrists.

World Health Organization (WHO) (2014). Preventing suicide: a global imperative. Luxemburgo: WHO.

5 1 vote
Article Rating

Escrito por Vinicius Dornelles

Psicólogo (PUCRS); Mestre em Psicologia (PUCRS); Especialista em Terapias Cognitivo-Comportamentais; Formação em Tratamentos Baseados em Evidênvias para o Transtorno da Personalidade Borderline (Fundación FORO - Argentina); Concluindo o Dialectical Behavior Therapy (DBT): Intensive Training (Behavioral Tech - EUA, Fundación FORO - Argentina); Sócio da International Society for the Study of Personality Disorders (ISSPD); Professor da faculdade de Psicologia da UNISINOS; Coordenador e professor da Especialização em Terapias Comportamentais Contextuais (InTCC); Professor e Supervisor da Especialização em Terapias Cognitivo-Comportamentais (InTCC); Coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisa em Personalidade (GEP)

Dica de leitura / vídeo: Treinamento da Comunicação Funcional

Vídeo: Skinner fala sobre condicionamento operante