Com o início dos estudos científicos e sistematizados da sexualidade humana durante o século XX, vários avanços foram obtidos e os sexologistas atuais concordam em que o modernismo sexual na teoria e na pesquisa foi introduzido por Sigmund Freud, na Áustria; Henry Haverlock Ellis, na Inglaterra; Magnus Hirschfeld, na Alemanha e Alfred Kinsey nos Estados Unidos.
“Com exceção de Freud, todos esses homens eram sexologistas entusiásticos que procuraram ampliar as fronteiras do comportamento sexual legítimo, reconhecer a existência da sexualidade feminina em paridade com a masculina, e questionar os contextos institucionais tradicionais da sexualidade humana: o casamento e a família” (Leiblum, e Pervin, 1982, p.27).
Os estudos pioneiros desses pesquisadores, embora tenham sido duramente contestados e criticados em sua época, propiciaram o surgimento de vários trabalhos antropológicos e transculturais nos quais eram questionados os preceitos rígidos e punitivos herdados da tradição judaico-cristã em relação ao sexo e suas práticas, os quais ainda influenciavam a moralidade das décadas iniciais do Século XX.
Dentre as várias pesquisas sobre o funcionamento sexual realizadas na primeira metade do Século XX, a que maior impacto causou foi feita por Kinsey e colaboradores (1948, 1953)
“…as duas obras de Kinsey, Sexual Behavior in the Human Male (Kinsey, Pomeroy & Martin, 1948) e Sexual Behavior in the Human Female (Kinsey, Pomeroy, Marin & Gebhard, 1953) influenciaram profundamente a noção de comportamento sexual aceitável da sociedade, e suas generalizações sobre as práticas sexuais dos norte-americanos não foram significativamente substituídas ou rejeitadas por estudos mais recentes” (Leiblum e Pervin, 1982, p.33).
Entre 1928 e 1932, houve a constituição da Liga Mundial para a Reforma Sexual que organizou conferências anuais tentando obter a completa igualdade de direitos para ambos os sexos e a libertação do amor sexual do objetivo único de procriação. A realização destas conferências, a publicação dos trabalhos de Kinsey e os movimentos ideológicos para libertar o sexo da moralidade sexual rígida e punitiva do presente e do passado, constituíram um quadro irreversível para o avanço das mudanças sociais, sexuais e políticas do mundo moderno. (Wood, 1961).
Outro fator determinante de significativas mudanças no mundo moderno foi o aparecimento de um movimento de contracultura na segunda metade do Século XX (1950 a 1960) que pregava o amor livre, aceitava o aborto, a homossexualidade, a nudez em público e propunha a paz e um retorno à natureza.
O movimento para a libertação Gay, gerado no movimento da contracultura, assumiu características políticas, sendo importante para os estudos sobre sexualidade, pois foi a primeira vez que homossexuais enfrentaram os preconceitos e assumiram uma postura política (Gregersen, 1983).
Foi dado um passo à frente no estudo da sexualidade quando Masters e Johnson publicaram, em 1966, um livro intitulado “Human Sexual Response” resultado de um extenso trabalho de laboratório, caracterizado pelo rigor científico onde foi pesquisado o ciclo da resposta sexual humana com todas as variações anátomo – fisiológico. O segundo trabalho desses pesquisadores foi um livro intitulado “Human Sexual Inadequacy” (1970), onde foi proposta uma terapia focal para os indivíduos portadores de Disfunções Sexuais, baseada em princípios comportamentais.
Apesar de suas excelentes credenciais, Masters e Johnson defrontaram-se com a veemente oposição de seus colegas médicos que se comportaram com os mesmos preconceitos existentes no início do Século XX e, demonstrando a mesma posição, as faculdades de medicina retiraram os convites de trabalho a eles dirigidos, seus artigos foram recusados para publicação em revistas especializadas e o apoio universitário foi limitado tão logo iniciaram suas pesquisas sobre sexualidade. Apesar do grande interesse provocado pelos resultados de Kinsey, os profissionais mostraram-se refratários às pesquisas que tratavam a sexualidade humana como passível de observação direta (Leiblum e Pervin, 1982). Uma breve descrição dos trabalhos de Masters e Johnson pode ser encontrada nos textos anteriores aqui publicados.
O trabalho de Masters e Johnson prosseguiu e, em 1979, eles lançaram um livro intitulado “Homossexualidade em Perspectiva”, no qual enfatizaram as características desta orientação sexual.
Em relação ao comportamento homossexual pode-se afirmar, também, que ocorreram alterações nas concepções sobre o mesmo, através da história. Na Antiguidade Pagã, um homem apaixonar-se ou relacionar-se com pessoas do seu sexo ou do sexo oposto tinha o mesmo significado: um equivalia ao outro e o que se pensava de um, pensava-se do outro. A conduta não era classificada de acordo com o sexo do parceiro, ou seja, heterossexual ou homossexual e sim em atividade e passividade. Ser ativo era ser másculo independentemente do sexo do parceiro passivo.
A passividade era uma característica atribuída à mulher, cujo conceito era o de um ser inferior, amedrontado, limitado intelectualmente e ligada emocional e afetivamente aos outros. A racionalidade, a força e a coragem eram atributos valorizados e exclusivamente masculinos, o que resultou no julgamento negativo da passividade no relacionamento sexual.
Na Grécia, o termo pederastia significava o amor de um homem por um menino que já passara pela puberdade, mas ainda não atingira a maturidade. Havia toda uma legislação sobre a pederastia na qual se procurava estabelecer quais eram os padrões comportamentais socialmente aceitos em um relacionamento homossexual, tais como a idade e a classe social dos praticantes.
Para os romanos não havia o estigma do caráter homossexual da relação e sim o da servilidade e também o da sofisticação. O que importava não era só o aspecto passivo/ativo, mas sim o domínio e a paixão, sendo que na relação homossexual um homem era subjugado por outro e tanto na relação homossexual como na relação heterossexual a paixão enfraqueceria o cidadão soldado.
Embora o julgamento da homossexualidade partisse de considerações iniciais diferentes, a condenação de um homem – homossexual ou heterossexual – se atinha ao mesmo conceito: o de submeter-se ou a alguém ou ao prazer – independentemente do sexo do parceiro.
A concepção cristã de sexualidade, baseada em uma crença de que a procriação seria a razão básica para o intercurso sexual, viria a ser de fundamental importância no surgimento de uma nova moralidade sexual a partir da união entre o Estado e a Igreja.
Esta união aconteceu no Século IV. O Imperador Constantino aliou-se aos cristãos e a Igreja Cristã passou, através do cristianismo, a unir os vários e heterogêneos povos que faziam parte do vasto Império Romano. À concepção Cristã da sexualidade exclusivamente com fins de procriação adicionou-se a rejeição greco-romana de passividade e servilidade e foi proscrito o exercício da sexualidade que não atendesse a estes dois critérios. Qualquer outra forma de expressão da sexualidade passou a ser considerada um pecado contra a natureza visto que transgredia as duas condições impostas para a prática sexual: o intercurso sem paixão e a procriação. A homossexualidade era a situação mais visível de tal pecado.
Com a proibição dos prazeres a homossexualidade torna-se totalmente dissociada da heterossexualidade e, sendo esta a única prática admitida, aquela se torna anormal e proibida.
A concepção cristã da homossexualidade viria a ser adotada por outros setores que não o religioso, como a Medicina, que desde o final do Século XVII considerava a homossexualidade uma enfermidade que um exame clínico poderia diagnosticar. Tal postura determinou em maior ou menor grau, o estudo e julgamento da homossexualidade até o final do Século XIX sendo que até este período, os homossexuais eram considerados pervertidos sexuais que deveriam ser encarcerados.
Referências
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Instituto Paulista de Sexualidade (2011). Aprimorando a saúde sexual. Summus Ed., São Paulo.
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Kaplan, H.S. (1983). O desejo sexual. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira.
Leiblum, S.R. & Pervin, L.A. (1982). O desenvolvimento da terapia sexual numa perspectiva sócio-cultural. In: Leiblum, S.R. & Pervin, L.A. Princípios e prática da terapia sexual. Rio de Janeiro: Zahar Editora, S.A.
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Masters, H.W. (1979). A incompetência sexual. 3ª. Ed. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira S.A.
Stahl, S.M. (2011). Psicofarmacologia: Bases neurocientíficas e aplicações práticas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.
Skinner, B.F. (1953). Science and human behavior. New York: Macmillan.
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